Sobre os acontecimentos do Ato Inter-Religioso no dia 30 de setembro na Catedral Metropolitana de São Paulo
No dia 30 de setembro de 2019 houve um ato Inter-Religioso na Catedral Sé em São Paulo. Em sua essência, tratava-se de gesto promovido por uma organização inter-religiosa, que desejava dar o seu apoio ao Sínodo da Pan-Amazônia, que o Papa Francisco vai abrir em Roma no próximo domingo, dia 06 de outubro. Em si mesmo não se trata de um ato político, ideológico, de apoio a algum partido político ou de apoio a algum grupo no estilo “Lula Livre”.
No entanto, para surpresa, como noticiado em algumas redes sociais, houve tumulto no final do evento, alguns militantes políticos portavam estandartes com o slogan “Lula Livre” e alguns jovens católicos consideram essa postura como agressão a fé católica e profanação do templo religioso.
Como esclareceu o Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, na Nota de Esclarecimento sobre o Ato Inter-Religioso na Catedral da Sé: “Estejamos muito atentos àquilo que ouvimos e lemos e de quem recebemos mensagens. Checagem das informações e discernimento são coisas indispensáveis, para não sermos arrastados por informações de todo tipo. É necessário ver, se as fontes das informações são confiáveis. Há muita fonte poluída por aí e quem bebe de fontes envenenadas, fica envenenado também e pode até morrer”.
De um lado, o templo religioso cristão é a “casa de Deus” (Hebreus 3, 6) e o “corpo de Cristo” (I Coríntios 12, 27). Por isso, merece ser respeitado pelos próprios cristãos e por não-cristãos. Nesse contexto, não cabe dentro do templo religioso atos políticos, ideológicos e nada no estilo “Lula Livre”. Não se pode permitir que um templo religioso, seja cristão ou de outra religião, seja transformado em palanque eleitoral, em campanha publicitária ou de outra natureza. O templo, acima de tudo, deve ser a “casa de oração” (Mateus 12, 13). Manifestações políticas, ideológicas e de outras naturezas já possuem seus devidos espaços dentro da sociedade. Por isso, deve-se respeitar o espaço do sagrado.
Do outro lado, não se pode aceitar, como bem colocou o Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, a existência dentro da Igreja dos chamados “justiceiros”, ou seja, pessoas que, dentro das melhores disposições éticas, terminam caindo no julgamento apresado e até mesmo na calunia e na difamação. De forma lamentável, dentro e fora da Igreja, impulsionados pelas redes sociais, atualmente existem vários “justiceiros” que, por razões diversas, algumas éticas e outras nem tanto, terminam espalhando notícias tendenciosas, meias verdades e até mesmo interpretações equivocadas de fatos que ocorreram dentro dos templos católicos.
Diante dessa realidade é preciso haver a moderação, o cuidado com as palavras, o amor a Cristo e ao irmão, a fidelidade ao magistério e a Igreja. Não basta dizer “sou católico” e no outro dia estar nas ruas ou nas redes sociais acusando, de forma apressada, os pastores que, mesmo que com suas limitações, guiam o rebanho de Cristo.
É necessário evitar que a Igreja se torna um campo, talvez de batalha, entre aproveitadores, os “justiceiros” e de gente infiltrada, militantes políticos, que percebem a Igreja apenas como um palanque eleitoral ou oportunidade para se autopromover nas redes sociais.
Por Ivanaldo Santos, filósofo, escritor, professor universitário.
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