Estamos cansados de política, devemos mesmo refletir sobre esse tema?
Como dialogar sobre política sem dividir nossas comunidades e famílias?
Os períodos eleitorais – e este ainda mais do que os outros – são marcados por debates enervantes e militantes que tentam a toda força convencer os demais. Isso desgasta o animo da maioria das pessoas e leva a um perigoso descompromisso com as questões políticas. Papa Francisco tem isso muito claro e observa:
“Atualmente muitos possuem uma noção má da política, e não se pode ignorar que frequentemente, por trás deste fato, estão os erros, a corrupção e a ineficiência de alguns políticos. A isto vêm juntar-se as estratégias que visam enfraquecê-la, substituí-la pela economia ou dominá-la por alguma ideologia. E, contudo, poderá o mundo funcionar sem política? Poderá encontrar um caminho eficaz para a fraternidade universal e a paz social sem uma boa política?” (Fratelli tutti, FT 176).
Uma outra tendência, frequente entre nós, é a de optar pela “antipolítica”: acreditar que um líder autoritário, que supostamente resolveria todos os problemas políticos em nosso lugar, seria melhor do que esse desgastante trabalho de participação democrática. O Compêndio da Doutrina Social da Igreja (CDSI 189-191) adverte:
“A participação na vida comunitária não é somente uma das maiores aspirações do cidadão, chamado a exercitar livre e responsavelmente o próprio papel cívico com e pelos outros (cf. JOÃO XXIII. Pacem in terris, PT 73-74, 145), mas também uma das pilastras de todos os ordenamentos democráticos, além de ser uma das maiores garantias de permanência da democracia. O governo democrático, com efeito, é definido a partir da atribuição por parte do povo de poderes e funções, que são exercitados em seu nome, por sua conta e em seu favor; é evidente, portanto, que toda democracia deve ser participativa (JOÃO PAULO II. Centesimus annus, CA 46). Isto implica que os vários sujeitos da comunidade civil, em todos os seus níveis, sejam informados, ouvidos e envolvidos no exercício das funções que ela desempenha”.
Francisco mostra que a “antipolítica”, a fuga da participação política ou a opção por uma saída autoritária, não é solução – só agrava o problema. A verdadeira solução é lutar por uma “política melhor”. Na Fratelli tutti, observa “Perante tantas formas de política mesquinhas e fixadas no interesse imediato, lembro que a grandeza política se mostra quando, em momentos difíceis, se trabalha com base em grandes princípios e pensando no bem comum a longo prazo. O poder político tem muita dificuldade em assumir este dever num projeto de nação e, mais ainda, num projeto comum para a humanidade presente e futura […] A sociedade mundial tem graves carências estruturais que não se resolvem com remendos ou soluções rápidas meramente ocasionais. Há coisas que devem ser mudadas com reajustamentos profundos e transformações importantes. E só uma política sã poderia conduzir o processo” (FT 178-179).
É um processo que exige paciência, tenacidade, compromisso com o bem comum e com nossa consciência. “A melhor maneira [do mal] dominar e avançar sem entraves é semear o desânimo e despertar uma desconfiança constante, mesmo disfarçada por detrás da defesa de alguns valores” (FT 15). Não conseguiremos um Brasil ideal da noite para o dia, mas podemos – em comunidade – caminhar para um Brasil que vai melhorando pouco a pouco.
Francisco sabe que esse trabalho político pode ser cansativo e duro, porém lembra-nos que “fomos criados para a plenitude, que só se alcança no amor. Viver indiferentes à dor não é uma opção possível; não podemos deixar ninguém caído ‘nas margens da vida’. Isto deve indignar-nos de tal maneira que nos faça descer da nossa serenidade alterando-nos com o sofrimento humano. Isto é dignidade” (FT 68). Quando recusamos nosso compromisso com a política, abdicamos de parte de nossa própria humanidade.
Mas isso não resolve o problema da polarização agressiva e sectária que ameaça dividir nossas famílias e comunidades. Diante desse fato, podemos elencar sete comportamentos que nos ajudam a manter um diálogo aberto e quando chegou o momento de realmente calar-se:
1) Estar sempre pronto a compreender as razões mais profundas das escolhas e posicionamentos do outro. Ninguém quer o mal para si e para aqueles que ama. Toda opção inadequada é o resultado de uma cadeia de conclusões errôneas a partir de um desejo justo de bem. Quando compreendemos as razões pelas quais cada um escolheu a determinada posição, torna-se muito mais fácil desenvolver o diálogo e chegar ao consenso.
2) Procurar não só os erros, mas principalmente os acertos que existem nos argumentos do outro – e aceitar aquilo em que ele está certo, mesmo que parcialmente.
3) Nunca menosprezar o outro ou as pessoas que ele segue. O menosprezo causa ressentimento e dificulta que tanto nós quanto os outros reconheçamos erros e acertos mútuos.
4) Evitar difundir fake news. Normalmente, uma busca rápida usando a ideia central com a palavra “fake” já direciona para um site confiável e especializado em checagem de informações. Os veículos de comunicação também podem errar, mas possuem um nome a zelar e mecanismos de apuração interna que diminuem o risco de informações descabidas.
5) Informar-se, procurando sempre o maior número de informações possíveis sobre a situação. É útil, em especial, consultar bons sites com posições e opiniões diferentes das nossas, para obter dados que normalmente não receberíamos.
6) Não propagar discursos de ódio e raiva. Diante dos descalabros atuais, os comunicadores sociais aprenderam que, quanto mais agressivos forem, mais seguidores conseguem, mas essa prática acaba por ofender os demais e impedir que façamos uma análise serena e racional dos acontecimentos.
7) Não ser insistente: se um grupo nas redes sociais solicita que não se enviem mensagens com temas políticos ou polêmicos, se um amigo ou parente se recusa a continuar um diálogo ou se torna agressivo, é melhor respeitar o contexto. O diálogo deve ser estabelecido entre os que estão dispostos a ele.