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O mundo na visão da doutrina social da Igreja

O mundo na visão da doutrina social da Igreja

Compreendendo a realidade numa perspectiva integral, a partir do pensamento social cristão

Categoria: Papa Francisco

A Mensagem da CNBB, as disputas ideológicas e as eleições

A Mensagem da CNBB, as disputas ideológicas e as eleições

Em um ano político, todas as forças políticas, que buscam o voto católico, tendem a tentar usar a doutrina social da Igreja e os valores cristãos para conseguir votos. É sempre bom relembrar que a Igreja não indica partidos, cada um de nós é convidado a escolher os candidatos que considera melhores à luz da caridade e da verdade – e nesse sentido são úteis os princípios e ensinamentos presentes nos documentos do Magistério. Assim, as diversas tentativas de conquistar o voto católico, por parte de políticos e partidos, devem ser sempre acolhidas no que têm de verdadeiro e criticadas no que têm de falso.

A 59ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou, em 29 de abril, uma nova Mensagem ao povo brasileiro. Imediatamente, o texto foi tomado por uns e outros, favoráveis e contrários, como instrumento para a propaganda ideológica de cada tendência. Os que se sentem mais à vontade com o teor da Mensagem, dizem “vejam como os bispos concordam conosco”. Os que se sentem criticados, dizem “vejam como os bispos estão comprometidos ideologicamente com nossos adversários”.

Bispos, padres e lideranças religiosas têm opções e formas de expressão influenciadas pelos grandes debates socioculturais e econômicos do País. Seus documentos, em sua exposição, refletem essas influências. Contudo, será um erro pessoal grave de cada um de nós, católico, reduzir suas mensagens a essas influências, ao invés de procurar a provocação que o Espírito, por meio dos seres humanos falíveis que constituem a sua Igreja, nos faz. Nessa Mensagem, aqui comentada, podemos encontrar sete elementos – totalmente inspirados e afinados com a doutrina social da Igreja. São temas que aparecem, talvez com formulação um pouco diferente, mas com esse mesmo espírito, em documentos como Solicitudo rei socialis, Centesimus annus e Evangelium vitae, de São João Paulo II, Laudato si’ e Fratelli tutti, do Papa Francisco.

É inegável que os temas que mais preocupam os bispos são as questões sociais, particularmente a situação dos mais pobres e das populações mais sujeitas a injustiças, e a estabilidade política da democracia brasileira – e esse não pode deixar de ser um convite a nossa reflexão e discernimento político diante das eleições. Nessa perspectiva, a Mensagem:

  1. Valoriza a solidariedade e encoraja movimentos e organizações sociais a trabalharam por uma sociedade justa e fraterna.
  2. Enaltece o esforço das famílias, nesse período de pandemia, em particular em prol da educação (ver o Pacto Educativo Global, estimulado pelo Papa Francisco).
  3. Denuncia os graves problemas sociais do Brasil, que aumentaram com a crise sanitária e internacional, as ameaças aos mais vulneráveis e ao meio ambiente.
  4. Condena a violência, as guerras, o armamentismo e a lógica do confronto, na sociedade e na política.
  5. Defende a vida, da concepção até a morte natural.
  6. Se opõe à manipulação religiosa e às fake news.
  7. Condena a corrupção, ao citar a Lei da Ficha Limpa, e conclama ao voto consciente, por uma política melhor.

Dificilmente encontraremos um candidato nas eleições que, na teoria e na prática, ao longo de toda a sua vida pública, tenha agido de forma totalmente condizente com todos esses pontos. Cabe a cada um de nós ter o discernimento para escolhermos aqueles que estão mais próximos da doutrina social da Igreja, procurando nós mesmos nos convertemos sempre mais e exortando-os a serem cada vez mais fieis ao bem comum.

Francisco Borba Ribeiro Neto


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Autor BorbaPublicado em 2 de maio de 2022Categorias Democracia, Diálogo, Eleições, Papa Francisco, São João Paulo II, Sem categoriaTags Aborto, Bolsonaro, CNBB, Corrupção, Defesa da vida, família, Lula, Opção pelos pobres, Papa Francisco, Partidos políticos, PTDeixe um comentário em A Mensagem da CNBB, as disputas ideológicas e as eleições

O medo que nos afasta de Cristo

O medo que nos afasta de Cristo

Na segunda-Feira da Oitava de Páscoa deste ano, ao rezar o Regina Caeli, o  Papa Francisco fez um convite para que todos nós vençamos o medo. Essas palavras não podem deixar de nos remeter àquelas de São João Paulo II, na missa de início de seu pontificado, quando sua exortação “Não tenhais medo” marcou o mundo católico (Aleteia também tem um interessante comentário sobre essa ocasião).

Os ousados correm mais riscos

O temor é um sentimento intrinsicamente ligado a nosso instinto de sobrevivência – e como tal é necessário ao ser humano. Uma criança pequena que não tenha medo das coisas pode parecer encantadora, mas corre muito mais riscos e tem muito mais chance de se acidentar que outra “medrosa”. Ter receio significa reconhecer os próprios limites e agir de forma adequada em função deles.

A ousadia fica bem em filmes de ação, quando o herói quase sempre vence, combinando suas capacidades a uma boa dose de sorte. Pode, contudo, ser até irresponsável, quando alguém compromete a sua segurança e a dos demais com um gesto ousado. Nossa sociedade, que idolatra o êxito, está sempre exaltando a ousadia dos vencedores. Fala-se muito hoje em dia nas startups, pequenas empresas abertas por inovadores, que se tornaram “unicórnios”, isso é, ficaram milionárias em pouquíssimo tempo. Elogia-se a criatividade e a ousadia desses empreendedores, mas raras vezes se fala que apenas um em cada cinco novos negócios costuma ir para a frente – e os que se tornam milionários são tão raros que recebem justamente o nome de unicórnios.

Sob esse ponto de vista, um certo medo é condição para uma atitude prudente. O culto à ousadia faz parte de uma certa ideologia neoliberal que considera normal deixar os que “não dão certo” pelo caminho, enquanto os vencedores ficam com todos os frutos. O receio que refreia a ousadia e orienta a prudência é desejável. Nosso problema surge justamente quando o temor paralisa a ação e nos impede até mesmo de tomar posições sensatas.

Quando o medo domina

O stress, um dos maiores problemas da sociedade atual, tem um componente biológico interessante. Na natureza, um animal que encontra seu predador precisa fugir rápido. Seu medo desencadeia uma série de reações fisiológicas, que aceleram os batimentos cardíacos e aumentam a atividade muscular. Algumas espécies de macacos lançam fezes contra o predador, tentando repeli-lo. Nós, seres humanos, quando nos sentimos intimidados, temos reações fisiológicas semelhantes. Na maioria dos casos, porém, sair fugindo não é uma solução para o problema (muito menos atirar fezes em outras pessoas). Assim, a reação que seria útil na natureza não só se torna inútil na civilização, como – ainda pior – causa um desgaste orgânico que traz mais dificuldades à pessoa.

O medo, dessa forma, deixa de ser um fator de proteção e se torna um problema em nossas vidas. O mundo civilizado não é menos perigoso que a natureza selvagem – só mudam os perigos. Atravessar uma rua movimentada, ir a uma festa noturna e voltar de madrugada, abrir um negócio, lidar com um chefe ou um cliente truculento, mandar os filhos para a escola… Se paramos para pensar, as atividades mais corriqueiras de nosso cotidiano carregam uma certa carga de perigo. Deixar-se dominar por esses perigos paralisa a vida e intoxica a alma.

Tanto a ousadia imprudente quanto o receio descontrolado são danosos. Porém, enquanto a ousadia imprudente costuma ser eufórica e exultante, o temor descontrolado nos angustia e deprime. Os jovens se encantam com a ousadia e têm aversão ao medo. Os políticos demagógicos e os líderes ideológicos costumam se apresentar como ousados, enquanto instilam o receio do outro em nossos corações.

Um obstáculo ao diálogo

O medo do outro é um dos maiores obstáculos ao diálogo e à reflexão. Quando temos receio de uma situação, canalizamos toda a nossa energia e todo o nosso intelecto para fugir do perigo. Não restam recursos para procurar entender o outro ou para discernir racionalmente quais são as verdadeiras dimensões do perigo. Fake news frequentemente exploram nossos temores. Desse modo, se torna mais difícil para nós perceber as inverdades apresentadas.

O medo nos fecha em nossos próprios grupos, que se tornam guetos, “bolhas”, onde nos sentimos seguros porque só reafirmamos ideias consensuais entre nós, todos agimos segundo um mesmo código de conduta, só ouvimos aquilo que queremos ouvir. Onde impera o medo, não existe o diálogo, nem um verdadeiro anúncio missionário. O medo, particularmente das ideologias e das posições políticas, numa sociedade plural e polarizada como a nossa, vem acompanhado pelo ressentimento e pela raiva do outro.

A coragem dos pobres de espírito

Curiosamente, o medo acompanha a riqueza. Imaginamos que quanto mais temos, mais seguros estamos. Em termos muito objetivos, isso é verdade. Mas, em termos subjetivos, frequentemente se dá o inverso. Quem muito tem, muito pode perder – e o receio da perda passa a controlar a alma. Assim, em nossa sociedade, vivemos num contínuo frenesi por segurança material, que nunca é conquistada, pois quanto mais temos, mais percebemos o perigo da perda imprevista, causada por um negócio infeliz, uma demissão imerecida, um acidente ou uma doença inesperada.

Por isso, existe uma coragem que é própria dos “pobres de espírito”, no sentido dado a essa expressão nos Evangelhos. O pobre de espírito é aquele que, mesmo possuindo, sabe que nada é seu, que tudo é graça e que, mesmo na aflição, a graça não haverá de faltar. Sabendo-se limitado, é prudente; mas sabendo-se acompanhado por Deus, não se deixa levar pelo medo.

Um coração aberto ao fascínio pela realidade

A prudência é uma virtude, como lembra o Catecismo da Igreja Católica (CIC 1806), mas o temor descontrolado é um pecado que nasce da falta de confiança em Deus. Numa mentalidade agnóstica, hegemônica em nossos dias, não é de se admirar que as pessoas vivam entre a glorificação de uma ousadia ilusória, até inconsequente, e a dominação dissimulada do medo. Enquanto a ousadia é cantada e louvada, mas praticada por poucos na vida adulta, os receios lançam a muitos na angústia e na insegurança diante da realidade.

O medo não nos permite desfrutar os encantos da vida, o fascínio pela diversidade de dons que o Senhor nos deu, o prazer do encontro sincero com o outro; pois tudo fica obscurecido pela insegurança e pelo ressentimento. O coração amedrontado se enche de aflição e raiva, indecisão e angústia. Não é à toa que os papas nos convidam com tanta insistência ao destemor que nasce da entrega da própria vida a Cristo.

Que possamos ter a mentalidade livre de todo receio que caracteriza os verdadeiros pobres de espírito e construir, para nós e nosso filhos, uma cultura da esperança que não decepciona, onde nossos irmãos e a própria realidade são sinais de amor e fascínio, não de insegurança e medo.

Francisco Borba Ribeiro Neto
(Originalmente publicado em Aleteia)

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Autor BorbaPublicado em 25 de abril de 2022Categorias Espiritualidade, Papa Francisco, Páscoa, São João Paulo IITags coragem, cultura, Diálogo, fé, Páscoa, pobreza, stressDeixe um comentário em O medo que nos afasta de Cristo

O ressentimento e o revanchismo que nos afastam de Cristo e do bem comum

O ressentimento e o revanchismo que nos afastam de Cristo e do bem comum

Se acompanhamos os movimentos da militância política no Brasil, vemos repetidamente sinais de que os posicionamentos e os gestos são definidos mais pelo ressentimento, pelo revanchismo e pela raiva do outro do que por uma intenção racional de construir o bem comum. Os vitoriosos frequentemente tendem a menosprezar os vencidos, que buscam se vingar quando “viram o jogo” e vencem. Com isso, se criam essas espirais crescentes de antagonismo, onde desqualificar o outro se torna ainda mais importante do que construir o bem comum. Assim, a direita vencedora quer cancelar as ideologias de esquerda, pelas quais foi cancelada no passado – e com isso tende a repetir os mesmos comportamentos que deveria eliminar. A esquerda quer agora anular e desacreditar tudo que levou a sua derrota, mais preocupada em se impor do que em rever as causas de sua queda.

Os sinais dessas tendências estão estampados nos jornais todos os dias. O resultado é que não se pratica o diálogo que leva à construção do bem comum, nem são feitas as mudanças e correções de rumo que cada um deveria fazer, seja de direita, esquerda ou do “centro moderado”.

Essa posição é justamente a oposta àquela proposta pela doutrina social da Igreja, que incentiva ao diálogo e à reconciliação em prol do bem comum. Ninguém é perfeito, ninguém é onisciente. O desejo de autocorreção, tão mais eficiente quanto mais é vivido em comunidade, é uma das maiores forças morais do cristianismo. Vale para a conduta pessoal, mas também para a busca de caminhos mais virtuosos na política. Buscar o diálogo, superar o revanchismo e assim encontrar caminhos de construção do bem comum não são comportamentos ingênuos, são – pelo contrário – os verdadeiros instrumentos para uma “política melhor”. O cristão deve negar um suposto “realismo político” que acredita que a conquista do poder justifica a tudo, que tudo é válido para eliminar o oponente.

Não deixe de ler, do Papa Francisco:

Fratelli tutti, FT 183-192; 198-214.

Discurso classe dirigente Brasil

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Autor BorbaPublicado em 20 de abril de 2022Categorias Democracia, Eleições, Instagram, Papa FranciscoTags Bolsonaro, Diálogo, Eleições, Ideologia, Lula, Partidos políticos, PTDeixe um comentário em O ressentimento e o revanchismo que nos afastam de Cristo e do bem comum

Perdoa-lhes[nos], pois não sabem[os] o que fazem[os]

Perdoa-lhes[nos], pois não sabem[os] o que fazem[os]

A famosa frase de Jesus, ao ser crucificado (Lc 23, 34), permanece, por toda a história, como uma das lições mais duras do seguimento a Cristo: amar e perdoar o outro no momento em que ele nos inflige a maior dor. Talvez seja ainda mais desafiadora nesse tempo de “batalhas culturais” e “cancelamentos sociais”. Lutamos para que nossa dignidade seja respeitada e para que os valores naturais a todo ser humano (ou que pelo menos assim deveriam ser percebidos) sejam respeitados num mundo que já foi cristão (uma análise objetiva mostrará que em nossa sociedade as marcas do cristianismo ainda persistem, mas ele não é mais hegemônico). É fato que grande parte de nossas dificuldades vêm de um cristianismo mal vivido ao longo da história do Ocidente. As contradições, os pecados e as traições de gerações de cristãos – alguns poderosos, outros não – criaram o terreno fértil onde cresceram as objeções ao cristianismo nos tempos atuais, mas isso não muda nossa indignação e nossa dor.

Quando respondemos ao mal com o mal

Falando sobre a não-violência, Bento XVI explica que “dar a outra face” (cf. Lc 6, 29) não consiste em entregar-se nas mãos daquele que é mal, mas sim em responder ao mal com o bem (cf. Rm 12, 17-21). Mas, uma tentação diabólica de nossos tempos é justamente querermos usar as estratégias do mal para vencer o mal. Se o mundo se tornou ideológico, sejamos nós também ideológicos – o que interessa é que a ideologia seja “a nossa”, supostamente boa e cristã. Se a mentalidade hegemônica está recheada de mentiras, por que não adulterar um pouco a verdade, deixando-a um pouco mais escandalosa para que os outros entendam melhor o quanto estamos certos? Como aqueles que têm uma postura anticristã nos censuram e nos cancelam, melhor responder-lhes com igual virulência e agressividade, afinal, o mundo é dos fortes.

Com essa assimilação de nossa conduta aos comportamentos que nos ferem, acabamos esquecendo que o cristianismo não é uma ideologia ou um programa moral, mas sim o encontro pessoal de cada um de nós com Cristo, como lembram tanto Bento XVI (Deus caritas est, DCE 1) quanto Papa Francisco (cf. sua carta a Eugenio Scalffari). Esquecemos que não existem “meias verdades” e que “meias mentiras” e fake News, mesmo quando bem-intencionadas, só nos levam para um mundo de falsidade cada vez maior. Nos tornamos, nós mesmos, agressivos e violentos, cada vez mais distantes do modo de ser de Cristo, que era “manso e humilde de coração” (Mt 11, 29).

É verdade que, ao longo da história, muitos se aproveitaram da mensagem de Jesus, exortando os cristãos a uma obediência e a uma humildade ingênuas e submissas. Grande parte da revolta anticristã dos tempos modernos veio de uma compreensível repulsa a esse tipo de situação. Por outro lado, também é verdade que a negação dessa postura tem levado muitos cristãos a uma dura militância que confia mais nas estratégias humanas do que na graça de Deus, esquecendo-se que “não há rei que se salve com a grandeza dum exército, nem o homem valente se livra por sua muita força” (Sl 33, 16).

A dura verdade é que a Igreja se declara assentada sobre o sangue dos mártires e o testemunho dos santos, não sobre a força dos cruzados ou as vitórias dos generais cristãos. Não só isso! De que nos valeria ganhar o mundo inteiro, se perdêssemos a própria alma? (cf. Mt 16, 26). Muitas vezes os cristãos, querendo criar um mundo supostamente melhor com as próprias forças, espalharam dor e sofrimento. Muitos cristãos, confiando no próprio poder, se perderam e se afastaram do caminho de Cristo.

A força do testemunho da bondade

Existe um outro modo de responder ao mal, que é com uma bondade sincera e inteligente, vinda de nossa conversão e adesão a Cristo. Os maus podem não querer reconhecer a força da bondade, mas ela tem um poder avassalador. Nosso grande problema não é sermos muito “bonzinhos”, mas não sermos suficientemente bons, para que nossa bondade permita a nossos irmãos ao menos vislumbrar, por um instante, a verdadeira bondade de Deus…

Ficou famosa a pergunta de Stalin, que foi sem dúvida o mais poderoso ditador do século XX: quantas divisões militares tem o papa? Nenhuma, é verdade. Numa guerra como a atual da Ucrânia, ele não pode enviar exércitos, nem contribuir para com as sanções econômicas que procuram parar a guerra. Pode apenas rezar pela paz e pedir aos poderosos do mundo um pouco de bom senso e caridade. Mas, o grande império soviético, com seus exércitos, suas armas atômicas e seus espiões, não durou um século, enquanto a Igreja Católica subsiste praticamente a vinte séculos.

Com a graça de Deus, a bondade tem um poder real. Quando vemos a forma pela qual o mundo trata o Papa Francisco, percebemos claramente essa força. Concordem ou não com ele, sigam a Igreja Católica ou não, as pessoas não conseguem negar sua bondade e seu exemplo. Infelizmente, o povo cristão nem sempre está à altura do seu líder – e a força de seu testemunho é perdida em meio a nossas contradições e aos posicionamentos ideológicos que nos dividem.

A experiência da misericórdia e do perdão

Aqui voltamos à frase do início desse artigo. De onde vem a força do testemunho de Francisco? O segredo de sua força, que não fica oculto, mas frequentemente não é percebido até por seus seguidores mais deslumbrados, é a experiência da misericórdia. Bergoglio é um homem que se sabe pecador e que se reconhece perdoado. Por isso, olha com ternura a seus irmãos, mais preocupado em comunicar-lhes o perdão de Deus do que em julgá-los por critérios morais (o que não quer dizer que não reconheça esses critérios, apenas entende que eles vêm depois da experiência do amor e do perdão, não antes).

Francisco é o homem que repete o pedido de Cristo, “perdoa-lhes, Pai, eles não sabem o que fazem”. Mas também é aquele que sabe repetir “perdoa-me, Pai, eu não sei o que faço”. Com isso, responde às batalhas culturais e aos cancelamentos sociais de um modo novo e impensável aos olhos do mundo. Que Deus nos ajude a sermos como ele, para o nosso bem, para o bem da Igreja e do mundo.

Francisco Borba Ribeiro Neto

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Autor BorbaPublicado em 17 de abril de 202218 de abril de 2022Categorias Diálogo, Espiritualidade, Misericórdia, Papa Francisco, PáscoaTags bondade, cultura, Diálogo, Misericórdia, Papa Francisco, Páscoa, Perdão1 comentário em Perdoa-lhes[nos], pois não sabem[os] o que fazem[os]
Mesas redondas apresentando as duas grandes encíclicas do Papa Francisco
  • A defesa da vida integrada a uma economia a serviço da pessoa16 de maio de 2022
  • Princípios irrenunciáveis e política no Brasil9 de maio de 2022
  • A Mensagem da CNBB, as disputas ideológicas e as eleições2 de maio de 2022
  • O medo que nos afasta de Cristo25 de abril de 2022
  • O ressentimento e o revanchismo que nos afastam de Cristo e do bem comum20 de abril de 2022
  • Doutrina social da Igreja e homeschooling18 de abril de 2022
  • Perdoa-lhes[nos], pois não sabem[os] o que fazem[os]17 de abril de 2022
  • A defesa da vida sem partidarismos12 de abril de 2022
  • Catolicismo e educação11 de abril de 2022
  • A família no Oscar 20225 de abril de 2022
  • A beleza, a verdade, a bondade e a doutrina social da Igreja2 de fevereiro de 2022
  • A sabedoria cristã diante das enchentes e dos desastres naturais28 de janeiro de 2022
  • Papa Francisco e a nova evangelização na Amazônia e no mundo5 de dezembro de 2021
  • O que é democracia?12 de setembro de 2021
  • Caminhos para um Brasil melhor5 de setembro de 2021
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