Se acompanhamos os movimentos da militância política no Brasil, vemos repetidamente sinais de que os posicionamentos e os gestos são definidos mais pelo ressentimento, pelo revanchismo e pela raiva do outro do que por uma intenção racional de construir o bem comum. Os vitoriosos frequentemente tendem a menosprezar os vencidos, que buscam se vingar quando “viram o jogo” e vencem. Com isso, se criam essas espirais crescentes de antagonismo, onde desqualificar o outro se torna ainda mais importante do que construir o bem comum. Assim, a direita vencedora quer cancelar as ideologias de esquerda, pelas quais foi cancelada no passado – e com isso tende a repetir os mesmos comportamentos que deveria eliminar. A esquerda quer agora anular e desacreditar tudo que levou a sua derrota, mais preocupada em se impor do que em rever as causas de sua queda.
Os sinais dessas tendências estão estampados nos jornais todos os dias. O resultado é que não se pratica o diálogo que leva à construção do bem comum, nem são feitas as mudanças e correções de rumo que cada um deveria fazer, seja de direita, esquerda ou do “centro moderado”.
Essa posição é justamente a oposta àquela proposta pela doutrina social da Igreja, que incentiva ao diálogo e à reconciliação em prol do bem comum. Ninguém é perfeito, ninguém é onisciente. O desejo de autocorreção, tão mais eficiente quanto mais é vivido em comunidade, é uma das maiores forças morais do cristianismo. Vale para a conduta pessoal, mas também para a busca de caminhos mais virtuosos na política. Buscar o diálogo, superar o revanchismo e assim encontrar caminhos de construção do bem comum não são comportamentos ingênuos, são – pelo contrário – os verdadeiros instrumentos para uma “política melhor”. O cristão deve negar um suposto “realismo político” que acredita que a conquista do poder justifica a tudo, que tudo é válido para eliminar o oponente.
Não deixe de ler, do Papa Francisco:
Fratelli tutti, FT 183-192; 198-214.
Discurso classe dirigente Brasil